Môa II

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Um sorriso tomou conta do seu rosto, eu parecia um pimentão.  A nossa conexão se confirmou com o beijo que parecia mais um reconhecimento de almas, uma troca de energia. Algo tão puro que eu já me sentia fazendo parte dela também.
- Você é linda! - Ela cantarolou no meu ouvido. Fiz cara de séria, Môa não entendeu
- Precisamos deixar algumas coisas bem claras por aqui. - Retruquei, ela curiosa - Não me deixa tão sem graça assim toda hora, viu? Me sinto uma idiota, não vale.
Ela riu, e eu só queria saber se estava tão na cara que eu já estava babando. Ela me tirava de órbita. 
Aproveitamos o restaurante e resolvemos jantar. O lugar era conhecido pelos crepes e saladas, que juntos à um bom vinho e aos raios do luar se transformavam em um quadro mágico.
O celular dela tocou, parecia não querer atender. Olhou duas vezes, deixou tocar. Eu insisti com os olhos. Ela se acanhou e atendeu.
- Oi. Uhm rum. Não. Tô aqui perto. Foi. Vim comer. Tô indo.
Monossilábica, hein? Não que eu já estivesse pensando em passar a minha vida toda ao lado dela, mas que beijo bom, hein? Que corpo gostoso! Não dava para acabarem com a minha alegria de  menina que não ia dormir sozinha, logo agora.
- Tô com a Clara. 
Um minuto de silêncio, ela olhou para cima e fechou os olhos como se estivesse irritada com alguma coisa. Desligou a ligação. 
- Vou te deixar em casa. Preciso ir.
Meu corpo esfriou. Brochei. 
Ela recusou quando eu quis dividir a conta, uma espécie rara de mulher cavalheira. Não consegui dizer mais nada, não estava entendendo o que aconteceu. Voltamos pelo mesmo caminho, que agora eu tinha conseguido perceber que não era mais longo do que quinze passos. Mas dessa vez ela não me abraçou, senti frio. Será que eu tinha feito algo errado? Não sei. Paramos em frente ao um Gol G5, branco. Ela olhou para os lados, parecia se esconder. Me convidou a entrar. Resolvi abrir a boca.
- Eu tenho carro. Vou encontrar as meninas e levar elas pra casa. Não se preocupe.
Ela parecia ter se entristecido. Eu nem queria saber. Não conseguiu sair do lado do carro, do motorista. E eu na calçada, olhando para ela sem saber o que foi aquilo tudo que ela me fez. 
Ela entrou no carro e se foi. E eu fiquei estatalada que nem uma idiota. Me senti uma puta, que depois de fazer o cliente gozar e de ganhar seus trocados, é deixada na rua, à mercê da sorte. E que sorte, hein?
Consegui entrar na boate de novo, era amiga dos seguranças depois de criar tanto evento ali dentro. Encontrei as minhas duas amigas lindas dançando até o chão ao ritmo do ragatanga. O que vodka não causava, não é? A gente tinha combinado que hoje encheríamos a cara, digo, elas, porque eu nunca gostei muito de beber. Tivemos um mês muito ruim e tiramos o final de semana para esquecer de tudo. Mesmo com o efeito do álcool elas perceberam que alguma coisa estava errada. Sabiam que estava afim da Môa, que ela tinha mexido comigo, e sabiam também o quanto "Alice" eu sempre fui. Amanda foi logo perguntando o que foi que a vaca lôra tinha feito comigo, enquanto Isis me abraçou e me deu um copo com tequila. Virei, e o mundo rodou. Talvez eu estivesse precisando mesmo de um pouco de adrenalina, quem sabe? A partir disso não me lembro de mais nada. Me disseram uma vez que a pior ressaca era a moral, mas percebi que a ressaca desmemoriada também não fazia muito bem. O sol quente no meu rosto me acordou. Eu não fazia a mínima ideia de onde eu estava. Ferrou.